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Deodoro da Fonseca

NUMERO UNICO COMEMORATIVO


Rio Grande do Sul, 24 de Setembro de 1892


DEODORO

E' cedo ainda para emittirmos um juízo sobre a individualidade historica do marechal Deodoro.

Para os monarchistas será por muito tempo o carrasco do Imperador.

Para os Republicanos sinceros, de coração o bravo general será sempre um benemerito da Patria.

O seu tumulo, a sua memoria será porém objevto para especulações por parte d'aqueles que mais o comprometteram em vida e a quem elle deveu os dissabores e as ingratidões dos que o depozeram.

No entretanto para os seus amigos, para a sua familia, a saudade velará dia e noite o somno algido do pai extremoso e do companheiro querido, do camarada leal e honrado.

E esta será sublime recompensa do muito que bem mereceu a alma impolluta do grande cidadão.

Para à Historia que já mais foi Madastra o Marechal Deodoro entrará como um bravo guerreiro, como cidadão honrado, como um funccionario dedicado, como um Patriota benemerito.

E quando tiver desapparecido, por qualquer accidente, do seio da humanidade a Patria brazileira, a historia apontará aos povos absorvos a Epopêa gigantesca de 15 de Novembro, o grande poema esscripto com a espada do guerreiro, em tres cantos de gloria :

LIBERDADE, IGUALDADE E PATRIA

Othelo de Lima.


Commemoração

A mocidade rio-grandende commemora hoje com a presente publicação a morte do Marechal Deodoro, ex-presidente da Republica Brazileira.

Commemoraçâo digna do valente militar, que no dia 15 de Novembro de 1880 implantou no solo patrio a Republica, acabando a anomalia, que nós brazileiros representavamos no continente Americano.

Commetteu graves erros o marechal Deodoro, mas resgatou-os brilhantemente desde que foi elle o fundador da Republica, quem inscreveu-a no dia 15 de Novembro «com a ponta de seu gladio no mappa das nações.»

Sobre o tumulo do grande patriota cahe hoje o orvalho da manhã, emquanto a sua memória perdura subjectivamente no peito dos brazileiros encorporada á pleiade dos heróes que pertencem ao Pantheon da Humanidade.

F. Bastos.


DEODORO

Faz hoje um mez que deixou de existir o valente soldado brasileiro, o immortal fundador da Republica.

Dizer quanto o Brazil deve a esse seu filho benemerito, é impossível.

Os grandes serviços prestados á nação brazileira pelo intemerato marechal Deodoro—compete a Historia,que em seu severo julgamento não se obceca na lucta apaixonada das apreciações politicas.

Ella dirá que o grande cidadão veiu arrancar a patria brazileira de um profundo torpor.

Accrescentará que o advento da Republica veiu injectar nas veias do grande povo brazileiro o enthusiasmo pelo progresso, o amor ao trabalho livre e bem compensado, á dedicação ás causas nobres e justas.

Sim, a Historia da nossa patria terá uma pagina dourada para dedicar ao grande cidadão, ao honrado brasileiro que tanto dignificou-a, já como soldado valente, já como cidadão, cujos merecimentos civicos o levaram a immortalidade.

No dia em que se commemora o seu passamento o humilde autor destas linhas debruça-se respeitosamente no aliar da sua consciencia de republicano convencido e envia os seus sentimentos de pezar á familia do benemerito cidadão.

Associa-se á patria compungida ao exercito nacional, que lamenta a perda de tão prestigioso cidadão, e confia que os grandes exemplos de honradez, patriotismo, prudencia e magnanimidade, tantas vezes revelados por aquelle grande coração, sirvam de estimulo para todos aquelles que labutam pelo progresso do paiz, desejando que elle marche desassombradamente pela senda florida do trabalho e da paz— unicos factores da felicidade das nações.

Rio Grande, Setembro de 1892

F. DE Paula PIRES.



Honremos...

Ainda é muito cedo para que nos occupemos da grandiosa individualidade que mais se salientou nos estadios da Republica Brasileira.

Manoel Deodoro da Fonseca foi o braço poderoso do extraordinario e bello movimento de Novembro de 89, que deu por terra os restantes fragmentos da única dynastia que preponderava na livre America.

Alma moldada para os grandes commettimentos, coração nobre e cheio de boas virtudes, caracter impolluto, inquebrantavel, affeito ás luctas enaltecedoras, Manoel Deodoro da Fonseca dando ouvidos a nova geração, acompanhando de perto todas as transições do caracter nacional não duvidou sequer um momento na implantação do regimen republicano no solo patrio.

Commetteu erros porque, transviado da norma traçada pela idéa triumphante, foi lançar mão de elementos deleterios, perturbadores, elementos suspeitos ao organismo que se tratava de consolidar sobre fortes esteios.

Entretanto é forçoso confessar que a Republica não teria vingado se não fosse o concurso poderosissimo do eminente patriota.

Hoje que elle pertence a Historia o seu vulto homerico ha de destacar-se como o regenerador da nossa nacionalidade.

Honremos pois, a memoria do portentoso brasileiro.

Antonio Ramos



O GENERALISSIMO DEODORO

Dorme á sombra de nossos gemidos commoventes, dorme tranquillo no sacrosanto regaço da casta immortalidade, ó heroe tão pranteado.

Ouço ainda meu coração, suspirar dolorido; vejo ainda a patria tremula, soluçante, envolver-se nos angustiados crepes da saudade, e entoar junto ao leito estremecido de seu libertador, os canticos da amargura, os cânticos da dór.

E' que ella ouve ainda aquelle brado triumphante, que soltaste em 15 de Novembro, aquelle brado que fez estremecer os Braganças, aquelle brado repetido com enthusiasmo, com harmonia até pelos rios murmurantes, até pelas mattas enverdecidas.

E' que ella ainda vê a tua espada pura, laureada, desemhainhar-se para quebrar os cruentos grilhóes da escravidão, que tanto nos torturavam, para despedaçar o feroz captiveiro, para reduzir a pó um throno asqueroso, e finalmente para apontar ao rei tyranno, ao rei bandido, o caminho d'além mar.

E a Republica, a rosada aurora da liberdade veiu, límpida, encantadora, beijar os labios deste gigante americano.

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Laureado heroe: Tu que foste o sublime vingador de Tiradentes vai lá na eternidade receber delle o abraço fraternal

E de lá do ceu azulino ver-nos-has prostrados, lacrimosos, orvalhando com o nosso pranto as flores sempre-vivas que vicejam em teu jazigo, estas flores que são o symbolo da nossa gratidão.

França Pinto.

Rio Grande.


Generalissimo Deodoro

Morreu o Generalissimo Manoel Deodoro da Fonseca!

A patria brazileira cobre-se de lucto pela perda de um dos seus mais dignos filhos.

Os verdadeiros patriotas pranteam a morte do fundador da Republica Brazileira.

Elle foi um heroe!

Quiz morrer, porém quiz tambem arrancar a sua cara patria das mãos dos usurpadores.

Teve inimigos, mas qu'importa?

Soube ser filho honrado, soube ser espozo estremozo, soube ser defensor dos negocios de sua patria e soube também levantal-a, esmagando os infrenes monarchistas que queriam arremessal-a à nojenta infamia.

Durante o exercício do alto cargo de presidente da Republica o generalissimo Manoel Deodoro da Fonseca deu provas inexequiveis do seu amor patrio, pactuou os seus actos com o devido respeito e recebia a cada momento demonstrações de sympathia por parte d'aquelles que sabiam apreciar o braço do possante gladiador.

Brazil! chora; o teu digno filho já não existe.

Luiz Mello Guimarães


DEODORO

Um acto deste homem me fez esquecer todos os erros que commetteu:—foi o acto de contribuir com o seu physico alquebrado, mas com a sua influencia militar para o arrancamento da ultima raiz monarchica que alimentava-se em solo americano !

Só a terra brazileira—na grande independente America — ainda sustentava com a sua robustissima seiva um throno—esse covil de corrupção, esse monte de vaidade, esse reducto da ignorancia e da superstição.

O beneficio que hoje gozamos de vêr a patria expurgada do mais immoral privilegio que pôde haver (o privilegio da magestade, invulneravel e omnipotente), o beneficio de ver os cofres do paiz cerrados para sempre á voracidade e fecundidade invencivel dos filhos, filhotes, netos, afilhados, pimpolhos e committante caterca adherentes ás prerogativas do throno—a quem devemos ?

A Deodoro!

E, pois, é dever do brazileiro amante do seu berço ter sempre em lembrança aquelle nome que a Historia—a mái carinhosa dos verdadeiros patriotas—já cuidadosamente guardou em seu seio.

ARTHUR VALERIO,



HONRA
à memoria do generalissimo
Manoel Deodoro da Fonseca

Se a dor poder transformar o
coração em lagrimas, a da patria
já teria mergulhado a arides de
vossa sepultura.

Deodoro não morreu, os genios não morrem, a morte é a continuaçàã da vida.

Os ultimos dias de Deodoro foram dedicados ás grandes ideias de ordem, progresso e civilisação, ideias que os brazileiros abraçaram, por se acharem na vanguarda das grandes aspirações americanas.

A fundação da Republica brazileira é a elle devido, foi feita sem luto e sem pranto!

Jamais pôde ser julgada uma precipitação condemnavel, impoz-se pela magestade de sua grandeza, |teve os deslumbramentos de uma alvorada, foi o maior acto de sua vida de guerreiro, em fim fundou-se na moral que a sustem.

O tempo jamais pôde consumir o seu nome, e os seus feitos estão encerrados no sagrado coração da patria, que de luto, em contacto com seu ataúde, lhe serve de pedestal: — é o que bem alto grita a voz da eternidade, indo tão altivo brado retumbar em todos os cantos do orbe.

Sim, se é uma verdade incontestavel serem injustas as acções que repugnam ao estado social dos homens, certamente é uma d'estas acções o quererem negar a fundação da Republica á Deodoro da Fonseca; quem póde arrancar a luz do astro do dia para cobrir de trevas o mundo? Quem póde arrancar ao malvado o veneno da calumnia? Só a molestia, e tão somente a molestia, o obrigou a soffrer os ardis de homens fracos, vis e invejosos, os quaes só podem governar com o terror, com o extermineo dos irmãos, até mesmo com o sacrifício da |propria patria.

Honra portanto á memória de Deodoro, já que elle com crenças inabalaveis, com forças herculeas, e vontade de ferro, fundou a Republica brazileira, já que a patria agradecida o tomou nos braços para o levar ao coração da historia nacional, já que, em fim, invejosos de cerebro pequenino, tacanho e acanhado,moralmente combatidos, procuram cospir-lhe a campa de affrontos.

Já que não possuímos noção falsa do que seja a grandeza de um povo, já que sabemos que todas as tendencias hodiernas são eminentemente liberaes, já que não nos amedrontam resistencias que só abatem espíritos tibrios e consciências em trevas, já que a morte de Deodoro é para nós uma liberdade perdida,— unamos-nos em garantia do futuro da patria, e com o peso esmagador de nossas virtudes, com a razão que illumina os nossos espiritos, com fé, consciência e liberdade, colloquemos-nos em alas com as armas na mão para combatermos em favor das sacrossantas liberdades republicanas.

Só assim poderemos bradar,— somos os soldados da patria, somos os condemnadores da tirania, somos o amor do proximo, somos luz, ordem e progresso, somos vontade que executa, somos o coração que sente e que palpita o grande coração da patria, somos em fim os republicanos depositarios das crenças do fundador da republica, d'aquelle cujas glorias foram ganhas nos campos de batalha em defesa da patria em que nascemos.

Jamais concitamos que as palavras ordem e progresso, gravadas no estandarte nacional com a espada victoriosa de Deodoro, sejam palavras mentidas.

Um republicano de 15 de
Novembro.C. C.


GENERAL DEODORO

A vida dos grandes homens é como a luz que apagada immerge tendo o universo na escuridão e na tristeza.

Brazileiros! R i o - Grandenses ! onde está o nosso grande general Deodoro? !

Em que mundo, em que terra elle se esconde, que delle só se escutam estas sentidas preces que o choram?

Não!... não choremos mais cidadãos! Choremos antes pela patria que o perdeu, pelo nosso infortunado paiz que sente a sua falta!