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Que póde a morte contra Deodoro?

Que importão estes lugubres apparatos? Nào vedes essas gloriosas datas, brilhantes de vida no seio do passageiro luto ? Não estarão nellas desenhada a immortalidade com toda o seu prestigio? Não... Deodoro não morreu, elle foi alistar-se nas phalanges do infinito, sentou praça nos batalhões da eternidade. Elle foi em outros mundos preconisar as nossas glorias.

Vede-o: elle está agora cercado das sombras de seus antigos camaradas, reproduzindo as scenas triumphantes de suas titanicas jornadas! Escutae-o : elle falla do dia 15 de Novembro de 1889, elle mostra agora o seu grande e patriótico coração, que soube conter generoso n'aquelle memoravel dia a gloria maior de sua terra natal! Elle só... sómente elle e a sua alma podiam conter pensamentos tão elevados, ideias tão heroicas, conquistando para a sua pátria uma coroa tão fulgente !

Vede-o : o sol de 15 de Novembro illumina ainda a sua fronte elevada e o seu altivo porte, que tem maior magestade que o dos reis! Quem vio jamais em peito brazileiro, guardar-se para a patria herança de mais sublimes victorias de que aquella?

Olhae-o ainda : oh ! deixai que elle só recante os grandiosos feitos d'esse dia esplendido de 15 de Novembro !

Quem de nós não o sabe ? Quem foi jamais tão grande nesta terra? Arrojado leão, condôr de guerra que a victoria coroava em toda a parte onde a espada que alcançava ia apontando o caminho da honra e do triumpho ; quem pode ainda imital-o em nossa patria ?

Olhae-o ainda, Rio-Grandenses? olhae-o sempre, elle volta agora ao seio do exercito mais ennobrecido, mais elevado, e já o seu idolo, a sua estreita de triumphos, o Napoleão das pampas o Alexandre americano.

O Brazil inteiro levanta-se para saudal-o, a patria o sauda de pé e o povo descobre-se para vel-o passar. General em chefe, dáo-lhe agora o lugar que elle e os seus destinos disputavam para o seu grande nome. O que fez elle ? Epopéa sublime tle victorias, pintura augusta dos maiores triumphos da terra de Santa Cruz, quem poderá descrever a tua valia. teu renome immnortal, — ó grande Deodoro?! E vimos chorar a tua morte, e vimos lembrar as tuas glorias ao pé de um mausoléo ?!... Atroz fatalidade! Herdeira dos cezaes, irmão de Leonidas, vulto esplendido da patria, onde estás?

Porque dormes, filho querido da liberdade? Porque nos privas de tua luz, astro mais fulgido e bello batalhador da liberdade!? Onde estás, onde descanças batalhador glorioso, luctador incançavel da terra do cruzeiro! Morte, que o roubastes, que podes tú calma sublime, contra elle? Sobranceiro coração eu te saudo em teu jeito de morte, no seio brilhante de tua immortalidade! Quebrem-se embora as tuas estatuas e memorias, rasgam-se as paginas da historia em que forão escriptas as tuas nobres acções, entreguem-se á mão do tempo as inscripçôes de teus feitos ; no coração do povo que te admirou, apezar da inveja e do odio, o teu nome viverá gravado para sempre! Eu te sauda alma immortal ! Tua memoria passará intacta, teu glorioso nome será transmittido ás ultimas idades, de nossos descendentes.

Salvador da honra nacional, vingador da patria o reservado destino glorificado e puro que te sabem guardar os leaes corações rio-grandenses, te hão de sempre collocar na primeira linha de seus mais amados heroes !

Salve, Deodoro ! A posteridade que vinga os povos das injustiças e seus oppressores que sentado sobre os tummulos dos reis tem separada as cinzas de Tito e Caligula as de Nero, do feroz Domiciano, as de Galba do bom Antonio, marcará, por certo, com o seu sinete inofuscavel os successos patrióticos e maravilhosas de tua vida dedicada e heroica! Quasi cincoenta annos de trabalhos tão honrosos, tantos lustres consumidos ao serviço da patria ; heroismo tão nobre, tão esplendida dedicação, mereceram-te a immortalidade e maior renome que filho algum d'esta republica alcançará ainda.

Todo o Brazil te admira, o mundo inteiro ha de saudar-te—Deodoro ! Salve, ó cinzas venerandas! Nome maior da minha terra, salve!

...Brasileiros, irmãos rio-grandenses, onde está o grande e envicto general Deodoro?... Posteridade eu te admiro!... Tens em teu seio o nome mais nobre d'esta grande terra. Deodoro, ó grande Deodoro, dorme em paz. e jà que teu vulto não pertence a tua amada Republica, que hoje te chora, que o teu nome e a tua sombra veneranda, nos cubra ainda por muito com a protecção benefica de tua santa e respeitável memória!

Rio-Grande, 18 de Setembro de 1892.

Alfredo Paes


DEODORO

Cançado das mais cruentas luctas da vida, dorme seu corpo, envolto no manto da gloria : o somno da Eternidade.

Sua alma, possuida dos sentimentos mais nobres, paira sobre seu Paiz querido, illuminando-lhe a vereda do Progresso.

Seus feitos como soldado e bravo, a Historia apresentará um dia; sua bondade como pai e filho, autopsiando o coração de um Brazileiro, là encontrar-se-á gravado.

A gratidão é o enlevo de nossa alma; a flor ridente do nosso coração.

Saudades e louros sobre o tumulo de DEODORO.

T. Jardim.



Mais um heróe

Acaba de abrir-se a historia brasileira offerecendo aos seus gentilicos mais um capitulo, glorificado pelo nome de Manoel Deodoro da Fonseca.

Quando successos gloriosos alcançados por este valente general, na victoriosa campanha do Paraguay, não bastassem para eleval-o a contemplação dos seus concidadãos, bastaria a sua saliencia no acontecimento de 15 de Novembro, e para fazer jús a nossa referencia.

Não póde a mocidade permanecer immovel em face das transformações que se operam no seu paiz, quando deste é, de preferencia o seu ideal.

As glorias representam cada uma solemnidade ; pois quer as conquiste a espada, quer as obtenha a palavra, quer as goze a penna, representam sempre um direito alcançado, e aquelles em cuja, póde repousar aquella coróa, desapparecem do theatro da vida, mas são transportados a todas as éras.

Hoje a população brasileira vé passar um ataúde e atira sobre elle uma allocuçào pesarosa, envolvida n'unia lagrima significativa da dór. No entanto esse mesmo ataúde, sobre o qual se despejam as saudades de um povo e que se denomina Deodoro da Fonseca, representa um altar, symbolisa mais um templo franqueado a viração que passa e legado a de amanhã.

E' que ao tempo que a tribuna sustenta Mirabeau e a penna levanta Thiers, a espada vem ao Brazil que glorilica-se na guerra estrangeira e ergue-se mais honrosa ainda, no passar pela revolução que tornou innolvidavel aquelle que se chamara Manoel Deodoro da Fonseca.

Uma lagrima sobre a sua recordação e um preito a sua gloria.

LEONEL CANARIM.


TOMBOU !

Depois de uma longa vida de serviços á patria, que soube sempre honrar e prestigiar—completou um mez—deixou de existir o grande marechal Manoel Deodoro da Fonseca.

Apreciamos o seu caracter energico e impolluto quando nas inhospitas plagas paraguayas o invicto soldado brazileiro pelejava pela honra da pátria ultrajada ; mais tarde como commandante das armas e presidente desta então provincia e finalmente como fundador e presidente da Republica Brazileira.

Foi neste ultimo e importantissimo cargo que o vimos cercado do maior critério, governando um grande paiz em plena revolução e dictatorialmente—com urbanidade, com justiça e moderação.

Não ha na historia da humanidade um facto idêntico : a dictatura do general Deodoro foi de uma benignidade que o tornou digno do amor e do respeito de todos os brazileiros.

Si teve erros—elles foram devidosa alguns dos seus ministros que trouxeram com sigo os vicios e os defeitos da monarchia.

Os seus intuitos, porém, foram sempre nobres e justos e facil é de suppor-se que se os seus secretarios estivessem preparados para o fim, ter-se-iam poupado muitos desastres á jovem republica.

Quando deu o golpe de Estado de 3 de Novembro estava naturalmente convencido de que delle dependia a salvação da Republica.

Reconhecendo que a nação o reprovava preferiu resignar o cargo a fazer correr o sangue dos seus patricios.

Si foi grande na ascensão grande foi lambem na queda.

Tornando á vida do lar, abatido e alquebrado pela enfermidade que o depauperavo desde muito antes de 15 de Novembro, o grande cidadão não mais cogitou da politica do paiz e exalou o ultimo suspiro a 23 de Agosto soreno e calmo como um justo.

Honra á sua memória.

BRASILIENSE,

Rio Grande, Setembro de 1892.



A voz d'um operario

Agora que esta grandiosa patria chora envolta nos pezados crepes, lamentando a morte d'um de seus mais extremecidos filhos, o innolvidavel generalissimo Manoel Deodoro da Fonseca, eu o obscuro operario, envio, para orvalhar as flores sempre vivas que ornam seu frio leito tumular, o meu pranto cheio de maguas.

ARTHUR CASTRO

Rio Grande.


O libertador do Brazil

O' grande pátria, ó terra dos gênios; vai orvalhar com teus prantos dolorosos, a lapide que encerra o corpo extremecido do teu heroe libertador!

Sim, foi elle que ousou em plena face d'urna orgulhosa monarchia, levantar o sublime estandarte republicano, foi elle que apezar de doente, apezar de alquebrado, expulsou do seio da pátria brazileira os miseráveis Bourbons, estes tvrannos que á sombra da desprezível coroa, saqueavam os cofres do paiz, roubavam-nos a liberdade, apontavam a força aquelles que tentavam libertar a patria.

Mas o generalissimo, rodeado de um punhado de heroes, não vacillou, e num momento fez cahir destroçado o throno, que tanto envergonhava nossa pátria—o astro brilhante da America do Sul.

Descanca no céu, ó redemptor do Brazil!

JOSÉ P. MATHIAS

Rio Grande


O salvador da patria

Também é dever da mulher patriota, quando vé abrirem-se as portas douradas da eternidade, para darem entrada a uma alma tão cheia de nobreza, tão cheia de patriotismo, tal como era a do pelejador heroico, o bravo proclamailor da magestosa Republica brazileira.

A mulher, que também alegra-se quando vé fluctuar no rosado horizonte da pátria, um futuro coroado de louros; também deve chorar quando o paiz inteiro acobertado com o sudario pesado do lucto, lamenta o eterno desaparecimento dum filho caridoso, que tudo sacrificava, uma vez que o limpido estandarte de sua terra fosse desrespeitado, ou quando a nação, opprimida, pedia supplicante a liberdade.

E este filho a quem a patria, estampou na aurea historia é o santo, o chorado fundador da Republica, generalissimo Manoel Deodoro da Fonseca.

E' e por isso, que eu que ainda soluço ante o retrato de Benjamim Constaut, que ainda maldigo o ingrato Vesuvio, em cujo seio ardente, jaz o sublime arauto da crença democrática, Silva Jardim, eu que antes de 15 de Novembro, só pedia a realisação dos ridentes sonhos do mortal Tiradentes ; choro hoje, ao ver que todos os bons brazileiros, chorando também, guiam a galeria dos finados heroes de seu paiz, a imagem venerada de Manoel Deodoro da Fonseca.

E. DA SILVEIRA


Uma lagrima

Aquelle que procura luctando, erguer seu paiz, tirar a patria do captiveiro, merece os louros de heroe. E é por isso, que o planeta americano, debuça-se hoje ante a tumba recem-aberta de Manoel Deodoro da Fonseca, para nella collocar, triste e respeitosamente, uma coroa de saudades, prateadas pelas lagrimas dos brazileiros.

E quem é que não admira, que não rende tuna homenagem ao heroe de 15 de Novembro ?

Somente aquelles que por indignos, a sedosa capa da patria, não consentiu que nella se occultassem.

Somente aquelles que não conhecem a historia brazileira ; que ignoram a morte de Tiradentes, que nunca souberam do exilio de Gonzaga o cantor de Marilia, de Alvarenga, de Claudio Costa e tantos outros que em 1872, tanto pugnaram pela verdadeira liberdade desta terra beijada pelo Amazonas.

Agora que so se ouvem os ais do Indio americano, eu o humildo republicano vejo deslizar pelas minhas faces uma lagrima dolorida, a qual cortando o espaço, vai cahir bem junto a idolotrada lousa do generalissimo Manuel Deodoro da Fonseca.

IGNACIO SILVA

Morador de Canguçú.


Deodoro da Fonseca

Quando este grande cidadão não tivesse outros predicados pessoaes—que os tinha— por ser um grande patriota e um bom soldado amigo e defensor de sua classe, bastava-lhe o enorme merecimento de ter feito a Republica, para ser digno de admiração, muito especialmente do partido republicano) que se batia pelo advento do seu ideal.

Homens como Deodoro, merecem sempre a veneração de um povo culto, embora um ou outro são vadio tente machar-lhe a reputação.

Os monarchistas chamam-o de traidor, por ter faltado ao juramento de defender a instituição que imperáva. Cegos!... Confundam os termos de traidor com conspirador, tão semelhantes no seu quanto defferentes na essencia!...

GENTIL DE LEMOS



Marechal Deodoro

Completa hoje um mez, que a patria inteira cobriu-se de lucto ; completa hoje um mez, que atou-se a santa mansão dos mortos o benemérito fundador da Republica brazileira.

Pátria! chorai a morte do vosso extremecido filho, que chamou-se em vida Manoel Deodoro da Fonseca ; daquelle que levado pelo patriotismo fez baquear o throno pestilento onde só habitava o orgulho.

Dorme guerreiro, dorme gloria do Brazil!

Em 15 de Novembro, todos nós fomos agradecidos depor a teus pés uma coròa de mimosas flores ; hoje ajoelhamos-nos ante teu tumulo e deixamos cahir sobre elle, as lagrimas de nossa saudade.

Rio Grande.

PEDRO MELLO GUIMARÃES



Marechal Deodoro

Impressão dolorosa causou-me a morte do eminente fundador da Republica brazileira , marechal Deodoro.

Não ha, nem haverá, quem não se sinta compungido com o rude golpe porque acaba de passar o Brazil !

Militar distincto, cheio de merito, servidor perpetuo da patria que lhe foi berço, soube sempre glorilical-a, arremessando do desprezo a horda sebastianista que pretendia perturbar a impolluta paz do caro Brazil.

Como republicano sincero, não posso deixar de depositar sobre o tumulo do marechal Deodoro uma coròa de saudades.

VILLA DIOGO