mente... Qual foi o desalmado que conspirou aí contra mim? Dirás - ninguém; eu digo - o tempo - apagando as afeições mais sólidas.
Aí vai talvez a minha última carta para a Campanha; digo, talvez, porque ainda creio, não estou de todo cético, ainda creio que me responderá.
Eu vou indo bem; a família boa; os filhinhos bons. Continuo abraçado à minha engenharia e nas horas vagas - como a vida é difícil e é preciso repartir a atividade, escrevo no Estado que não quer aceitar a minha colaboração gratuitamente. Não sei se tens lido os artigos meus, alguns assinados, outros não, mas fáceis de serem percebidos.
Não quero referir-me a assuntos políticos: não te quero assombrar com a minha tristeza imensa e amarga ironia com que encaro aos maltre-chanteurs que nos governam. Felizmente a República é imortal! Resistirá quand même, a despeito de tudo (Escaparam-me dois francesismos detestáveis, desculpa-me).
Dê um abraço no Dr. Brandão que não me escreve, que não me escreverá talvez - o que não impede que o seu nome seja sempre pronunciado em minha casa com a mais respeitosa gratidão. Saudades ao comendador Bernardo, muitas saudades.
Recomende-nos a todos e acredite sempre no am°
Euclides da Cunha
Rua Santa Isabel n° 2 [1]
[Bahia, 12 de agosto de 1897]
[Ao gal. Solon] [2]
Deve estar surpreendido com a minha vinda à Bahia, inesperadamente.
- ↑ À margem: “A Campanha vai ter um bispo... Parabéns??”.
- ↑ A Revista do Brasil de junho de 1922, nº 78, reproduz artigo de Maurício de Lacerda, intitulado “A missão de Euclides”, anteriormente publicado em O imparcial (sem data), incluindo estes trechos.