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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/100

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Diana de Liz: Memorias


primeira vez mergulhei na vida e dêsse penar nasceu esta amarga filosofia, filosofia de mulher garrida, escrava inquieta do Amor.

Para afugentar estas crises de desânimo, tenho cultivado as artes, praticado o bem e tentado refugiar-me na Religião. Mas, como artista, os meus talentos são infimos e a caridade — que eu considero um dever moral de todos aqueles que conhecem as agruras da miséria propria — não ocupa exclusivamente o meu espirito e muito menos desde que, algumas vezes, uma ingratidão malévola e consciente me tem ferido...

A Religião? Oh, eu creio, eu creio! No entanto, não logro sufocar as minhas tentações mundanas e, irresistivelmente, peço a Deus que me anime o coração com a ardencia do amor profano — em vez de lhe pedir que me inunde o espírito com a doçura infinita do amor divino...

Fevereiro, sexta-feira, 2

Admiro-me, hoje, de ter chegado a supôr que esqueceria facilmente Gilberto. A verdade é que não posso libertar-me dos pensamentos obsecantes que para ele me impelem. Soube interessar-me profundamente, soube prender-me; havia entre mim e ele, apesar dos nossos pequeninos duelos de ironia,

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