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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/99

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duma mulher da epoca


que poderia ter sido a minha vida se, menos cega pelo orgulho e mais indulgente pelas fraquezas dos outros, eu não tivesse exigido a anulação, perante a lei, do meu casamento... Só hoje, que aprendi a observar o mundo e os homens, hoje, que a experiencia criou em mim uma dolorosa perspicácia, compreendo que é melhor, incomparavelmente melhor, perdoar as faltas alheias, por mais graves que sejam, do que necessitar que os outros nos perdõem aquelas que praticamos...

Foi com indiferença que vi passar ao longe o homem a quem, por capricho da sorte, couberam as minhas primeiras caricias tão puras, tão desartificiosas!...

Em meio de tantos raciocinios desoladores, que desoladora é a prova de que todo o amor humano, ainda o mais fogoso e o mais profundo, esfria e morre como tempo ou com o afastamento!...

Há na vida horas tristes em que a nossa alma se sente só, inteiramente só, não obstante os mil protestos de afecto, interesse e ternura que cáem sobre nós, em lisongeiro dilúvio... Atravesso neste momento uma dessas horas em que o único refugio da minha alma é a minha alma... Sofro desde que pela

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