dignada pela falta de respeito que alguns homens manifestavam pelos meus tristes trajes, senti-me intimamente afagada por aquelas frases banais de louvor á minha mocidade. Meu querido Carlos, perdoa á tua dedicada mulhersinha a vaidade de se achar bela no luto que por ti está usando! São idéas profanas, certamente, mas que afinal em nada diminuem a intensa dôr que ainda experimento pela tua morte... Demais, a consciencia de que procedia mal dando ouvidos ás palavras trivialmente absurdas dalguns passeantes, provavelmente ociosos e inúteis, perturbou-me tanto, tanto, que me esqueci de comprar o frasco de essencia de Gabilla que tinha, principalmente, motivado a minha saída!
29 de Abril.
O Carlos fazia hoje anos, se fosse vivo. Este dia tem sido de lágrimas para mim... Pobre querido! Levou para a sepultura o delicado fio de oiro que lhe coloquei ao pescoço, poucas horas depois do nosso casamento... A ternura com que êle beijou então a sua Silvininha!... Quem me déra agora um beijo dêle, quem mo déra! Carlos, meu querido Carlos, a tua alma, vagueando ainda, naturalmente, pelo espaço, não procurará ás vezes a tua mulhersinha?
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