25 de Abril.
Que vergonha! Surpreendi-me, há instantes, a cantarolar baixinho ― muito baixinho, é certo ― enquanto dava uma vista de olhos por vários objectos que me avivam lembranças da minha vida de solteira e conservo numa gaveta do toucador do meu quarto de donzela. Felizmente, estava só; se alguem presenciasse esta indesculpável leviandade, que juizo faria dos meus sentimentos?! Esqueci-me momentaneamente da minha triste situação! Meu querido Carlos, que a tua alma me perdôe esta abstracção que me envergonha! Tenho lágrimas nos olhos... Porque foi que esta manhã cobri o meu rosto com uma ténue camada de impalpável pó de arroz de Clamy, como despreocupadamente fazia, nos dias felizes?...
26 de Abril.
Sinto-me cada vez mais descontente comigo mesma. Saí ontem, com minha mãi, a fazer necessárias e determinadas compras, e por muitas vezes ouvi áqueles que por mim passavam elogiar a minha frescura, que, decerto, sobresái notavelmente em meio do luto, apesar do véu — aliás pouco espesso — me cobrir o rosto... Pois bem! Não obstante ter concordado com as palavras de minha mãi, que parecia in-
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