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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/116

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Diana de Liz: Memorias


 
A MATERIA, indolente:

Meu Deus! Se eu acho isso tão natural! E, depois, não é bem o que dizes; não sou eu que quero seduzir os homens; eles é que me exigem que eu os ame. Que culpa tenho eu de possuir uns olhos fosforescentes e uns cabelos encaracolados?

O ESPIRITO:

Embevecida com os teus atractivos, esqueces-te de examinar os teus defeitos. Essa boca é demasiado rasgada, esse nariz não tem, certamente, a pureza de forma do de Lais.

A MATERIA, num riso brando:

Mas se eles gostam assim ! Que hei-de fazer?! Tu sabes bem se eles gostam ou não! Creio que já passaste uma vista de olhos ás inumeras cartas amorosas que tenho recebido até hoje de mil adoradores e que conservo, cuidadosamente, naquele cofre que está sobre o toucador.

O ESPIRITO:

Nunca pensaste que eles mentem, na sua maioria?

A MATERIA:

Que importa, se eu tambem lhes minto quasi sempre?


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