O ESCRITOR (continuando) — ...E Leonorela, agitando enlouquecida os braços, os braços longos e flexiveis como bambús, soltou um grito, um grito enorme, perfurante, colorido de rubro. E êsse grito elevou-se nos ares como um aerostato de dôr, ziguezagueou, espiralou, contorceu-se e foi cravar-se, como uma flexa, no infinito...
O CONSELHEIRO — Magnifico!
A DONA DA CASA — E' de um grande efeito.
A SENHORA PICANTE (entre-dentes, para a que lhe fica ao lado) — Que chorrilho de tolices!
UM DOS MILITARES (para a mulher do escritor) — Seu marido é um idealista, minha senhora.
A MULHER DO ESCRITOR (convicta) — Sim, êle lá tem as suas idéas, isso tem...
(Uma criada traz o chá. Todos se servem. A conversação esmoreceu).
A DONA DA CASA (para o conselheiro) — Um pouco mais de assucar, conselheiro.
A SENHORA PICANTE (baixinho, para a confidente de sempre) — Parece impossivel que ainda haja conselheiros; já não são homens, são múmias...
UMA OUTRA SENHORA (para o auditorio) — Está-me a lembrar o chá que tomei, noutro dia, em casa da mulher do Moreira Alves. Sabía a mofo que era um horror!
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