— Margarida, tu tornas-te imoral e arripias-me, — disse Dinora.
Margarida ria, nervosa; Dinora prosseguiu:
— Como querias tu que eu não classificasse de monstruosidade uma conclusão como a que acabas de tirar? E' admissivel que uma mulher inteligente e de gostos elevados, como tu, se embrenhe em tão abominavel teoria?! Tens de renunciar a essas extravagancias, minha querida, e é triste que seja eu, que sou muito inferior, sob todos os pontos de vista, quem tenha de dar-te conselhos razoaveis.
— Tu não me disseste, um dia, que achavas naturalissimo que um homem amasse, ao mesmo tempo, tres ou quatro mulheres, das quais uma poderia ser bela, outra inteligente, outra...
— Mas isso são eles!
— São eles?! E nós não devemos ter os mesmos direitos?
— Olha, Margarida, tu chama-me burguesa, como aquela madame Ferreira dali defronte; classifica-me de pobre de espirito, como a filha do bacalhoeiro da esquina; apoda-me de banal e vulgar, como quizeres, mas não tentes convencer-me de que uma mulher póde, dentro das leis do sentimento, dividir o seu amor por dois homens. Isso é impossivel e tu tens ou de escolher um dos dois ou de renunciar a ambos.
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