— Pois eu acho o meu raciocinio justissimo. O que me preocupa e me deve ter dado o ar perplexo que tu ha pouco notaste, é não encontrar a maneira de resolver este problema, de pôr em pratica, com tacto e habilidade, a teoria que tanto te escandalisa.
— Se essa teoria é absurda, Margarida! Nem tu a poderias pôr em pratica! Reflecte, pensa bem.
Margarida deitára para traz a cabeça fina e perversa, fitando no tecto os grandes olhos. Zázá, enroscada no tapete, dormia tranquilamente, já indiferente ao esvoaçar do pequenino insecto e ao novelo vermelho, abandonado a meio da casa. Dinora, fazendo girar com o indicador um cestinho de prata que estava sobre a pequena mesa redonda, preguntou, repentinamente, após alguns momentos de silencio:
— Então, Margarida, em que pensas?
— No que me disseste ha pouco. Com poucas palavras me convenceste ! Tens razão. Estive fazendo a minha escolha.
— Catavento! Mas ainda bem que concordas comigo. Por qual te decides? Pelo bel esprit? Não, pelo outro. Deve ser mais divertido.
E indo sentar-se ao piano, principiou a tocar, de cór e com ar travesso, um fox-trot buliçoso.
Lisboa, 1923.
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