da inveja
Minha querida Lúcia: — Inquietou-me deveras a tua carta de ontem.
Recebia-a esta manhã, precisamente quando iniciava os meus trabalhos quotidianos de toucador. Entre parêntesis: não te admires de que eu classifique de trabalhos os cuidados de toilette, que todas nós reconhecemos como uma obrigação fundamental inerente à nossa qualidade de mulheres. Eu penso até, que se lhes deveria chamar trabalhos forçados. E isto por inúmeras circunstâncias que não irei desfiar agora, visto não ser êste o momento próprio para falar dessas coisas tremendas a que os homens chamam futilidades e que, sendo o nosso pedestal, são tambem o nosso calvário.
Foi, pois, entre um raio de sol e uma nuvem de pó de arroz, que eu mergulhei a vista na tua prosa aflictiva. A carta vinha toda impregnada dessa «espécie de neurastenia» de que te queixas e que é, em ti, afinal, uma doença crónica, de repetidas, repetidissimas
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