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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/174

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Diana de Liz: Memorias


 

te, ambicionando sempre qualquer coisa de ardente de grande, que parecia não chegar... E, no entanto eu não sentia sêde de aventuras, não desejava realizar na vida qualquer romance lido na adolescencia era fiel, escrupulosamente fiel, a meu marido.

Lembro-me bem de que uma vez, tendo ouvido, durante um baile dado em casa duma amiga minha, alguns galanteios ousados da parte de um homem que tambem frequentava a nossa casa, lhe voltei desabridamente as costas, depois de lhe ter formalmente proibido que voltasse a vizitar-me...

Mas um dia, veio, minha Tia, em que amei, amei violentamente, com todo o entusiasmo da minha alma impetuosa... E houve, então, uma luta atroz entre o coração e a consciencia dos meus deveres de esposa. Pensei, lutei! A minha consciencia era tão firme e o sentimento da minha dignidade tão profundo que me convenci de que, devendo todas as minhas comodidades, todo o meu luxo, tôda a consideração que disfrutava, a um homem de bem, que depositava em mim uma confiança ilimitada, seria uma mulher indigna, merecedora do maior despreso, se o enganasse, enlameando o nome que êle me déra e dando largas á minha paixão por outro, ao mesmo tempo que representaria uma torpe, repugnante comédia, continuando a viver sob o mesmo tecto dêsse homem!


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