― Nunca farei tal! ― disse comigo. E empreguei, então, esforços sobre-humanos para sufocar aquêle amor que criára em tão pouco tempo tão sólidas raizes. Foi inutil... Se a consciencia se impunha, o coração ordenava... E tive de ceder a essas simultaneas influencias.
Uma manhã, depois duma noite de febre, de receios, de mil angústias, tendo tomado uma resolução, entrei no gabinete onde meu marido trabalhava. Sentei-me ao pé dêle e, agarrando-lhe uma das mãos, expuz-lhe, num grito de alma, tudo o que se estava passando no meu íntimo. Disse-lhe que tinha por êle o maior respeito e uma verdadeira estima; que sentia o mais vivo reconhecimento por todas as suas condescendencias e generosidades, mas que um amor subjugante por outro homem, amôr que em vão quizera reprimir, me arrastava impetuosamente, numa onda de desvario, e que preferira sujeitar-me à mágua, à vergonha de lho confessar, a iludi-lo, a atraiçoá-lo, abusando da sua bôa fé.
Acabei a minha confissão sufocada em choro e quasi arrependida de ter falado. Meu marido ficou frio, impassivel, e só um rictus da sua boca contraída denunciava a dôr que, decerto, o estava dominando. Levantou-se e disse apenas, mostrando-me a porta: — «Disponha as suas coisas e sáia hoje mesmo desta casa!»
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