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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/179

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duma mulher da epoca


 

quando o acaso as faz cruzar comigo e até alguns amigos de meu marido deixaram, grosseiramente, de me cumprimentar. Que me importa?! Em meio da minha voluntária pobreza, na minha situação irregular, mas conhecendo como conheço a conducta de algumas dessas mulheres e a vergonhosa tolerancia de alguns dêsses homens, sinto por toda essa gente a maior indiferença e ergo bem a cabeça quando por ela passo, pensando sempre, para meu suficiente amparo moral, o que já lhe disse, minha querida Tia: fui pecadora, sim! ― mas não desci a representar um papel ignóbil, repugnante, junto daquele a quem não podia ter amor, mas a quem tinha o dever de respeitar. E espero que o divorcio requerido por meu marido me permita, daqui a algum tempo, regularisar esta situação.

Aqui está tudo. A falta das minhas noticias, minha boa, minha carinhosa segunda mãi, foi devida ao meu receio de afligil-a contando-lhe estas passagens da minha vida, que não podia, porém, continuar a ocultar-lhe. Perdôe essa falta áquela que lhe beija enternecidamente as mãos e que para si será sempre a ― Lili.

 

Lisboa, 1923 (?)

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