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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/189

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Diana de Liz: Memorias


 

que serviria uma falsa modestia? Fico extasiada seja ao observar o meu narizito arrebitado, seja contemplando o meu pé delicado, esguio; quando considero os meus cabelos rebeldes e quando os meus labios espessos e vermelhos se refletem no espelho, num meio-sorriso provocador, de cambiantes ironicos. E tenho especial predilecção por este sorriso que me levou mezes a ensaiar e que tantos cuidados dava a meu marido, aquele bom e pacifico Alberto, morto ha já quatro anos e de quem me lembro sempre com uma enternecida saudade. Mas, basta de divagações! Vou começar as minhas confidencias propriamente ditas.

Já numa das minhas cartas anteriores eu te tinha dado a entender que uma ligação oculta estava preocupando o meu cerebro e ocupando o meu coração. Não te dei então, porém, os pormenores que hoje estou disposta a dar-te. A história da ligação a que me refiro é esta:

Fez agora, na vespera do Natal, um ano que eu conheci, em casa de minha tia Berta, o Miguel G., heroi deste período da minha vida, período ainda não finalisado, contra o que eu ainda ha bem pouco tempo supunha. Conheci-o nessa noite, pessoalmente, porque de nome já de ha muito o conhecia, tendo lido dois volumes de poesias suas, que me deixaram encantada

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