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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/190

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Diana de Liz: Memorias


 

pela sua belesa, levemente satírica, quasi impercetivelmente mordaz.

As salas da tia Berta estavam cheias de visitas, principalmente meninas que ora desafinavam em romanzas de Tosti, ora recitavam, com inflexões falsas e afectadas, algumas das mais absurdas poesias modernas. Eu, com os meus trinta e quatro anos e na minha condição de viuva, fazia parte dum grupo for mado, no vão duma janela, por duas outras viuvas ainda novas e uma dama solteira, passante dos cincoenta, cuja maledicencia me desnorteava. O Miguel, que minutos antes me fôra apresentado, acercou-se de mim e travou conversação.

Entre parentesis, minha querida e modesta amiga, devo dizer-te que julgo ter estado capitosa nessa noite, com a minha toilette lilaz e com os meus bandós negros que, apesar de classicos, tão bem emolduram o meu perfil irregular. O general B., homem ainda aprumado e cheio de vida, dirigia-me, por vezes, olha res significativos e o Raul S., um rapazinho romantico, que estuda direito, não me desfitava, ficando verdadeiramente desolado quando lhe afirmei que as conveniencias, em geral, e a pruderie da tia Berta, em particular, não me permitiam dansar. Perante isto, atravessou, com ar desapontado, a sala, em direcção á Carlota M., uma solteirona bonita e garrida, com a

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