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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/194

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Diana de Liz: Memorias


 

Natal, aniversario do meu primeiro encontro com o Miguel, para lhe anunciar a resolução que havia tomado e propôr-lhe uma separação amigável. Disse-lhe para ir a minha casa nessa noite e esperei-o meia-deitada no sofá, tendo junto de mim a pequenina mesa de chá e o calorifero.

Soavam onze horas quando êle entrou; sentou-se junto de mim, beijou-me e conversámos. Pois bem, minha querida Leopoldina, talvez aches extraordinário o que vou dizer-te, mas posso afirmar-te que o meu poeta se me afigurou, naquela noite, muito mais cativante do que antes. Achei-o mais vivo, mais espirituoso; o seu olhar brilhava e os seus beijos tinham um sabor desusado.

Senti-me feliz por ser amada tão profundamente e sem que conseguisse explicar a mim própria uma tão estranha e subita reviravolta, de todo se me foi a idéa de romper e invadiu-me um repentino e intenso desejo de prolongar indefinidamente esta afeição. Quando ele me preguntou, carinhoso, se, passado um ano, nos reuniriamos tão terna e amorávelmente como naqueles momentos, respondi-lhe, sem hesitar, que sim — e creio que, realmente, isso sucederá, convencida como estou que só de agora em diante saberei ama-lo como ele merece.

E foi isto o que me resolveu a escrever-te, nesta

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