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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/209

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duma mulher da epoca


 

de longe. E julgo ainda que, nesta época de facilidades sentimentais e práticas, do descontentamento ao divorcio vai um passo. E do divorcio a novo casamento...

— Você tornou-se má, Camila!

— Eu?! Que idéa, meu amigo!

A perspectiva afunilada daquela rua solitária era cinzenta, tristonha, fechada por nuvens côr de chumbo. As casas burguesas, de ar tranquilo, dir-se-iam todas semelhantes e as cortinas das suas triplices filas de janelas pareciam iguais. O «taxi» corria, corria pelo empedrado fóra. E logo outro surgiu em sentido inverso. Filipe debruçou da portinhola a cabeça suspeitosa. «O outro, êsse que amava sua mulher, saberia onde êles residiam? Quem sabe se se atreveria a vir rondar a casa?... Ou seria tudo mentira da Camila? Ela estava mudada. Dantes parecia adorá-lo. Agora... As mulheres, as mulheres ! Sabe-se lá, nunca!»

Á luz baça do crepusculo, Filipe desceu do «taxi» e transpôz a larga porta de sua casa. Encontrou sua mulher bordando Richelieu, plácidamente, sem pó de arros, um anel de cabelo caído na testa erguida para o beijo habitual.


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