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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/213

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Diana de Liz: Memorias


 

— uma provinciana inculta e virtuosa, por algumas tias solteiras e inflexiveis e pelo pai, burocrata exacto e cumpridor. Quando a galanteavam, sorria, inocentemente vaidosa, feliz por ver-se requestada. Mas inventariava tambem teres e haveres de qualquer pretendente mais sério que se lhe dirigisse com fins himenescos — procurando secretamente informações e policiando com argúcia o alvejado. Dona dum coração sensivel e duma vaidade razoável, bistrava conscienciosamente os olhos, punha um geitinho tentador na sua boca tão grande como sorridente e dava esmolas minimas a todos os pedintes que lhe solicitavam caridade...

Realizaria as suas aspirações na vida prática, um homem rico e vulgarmente sensato; herois dos sonhos que lhe perpassavam, numa ou noutra tarde de preguiça romantica, pela cabecita crespa, eram-no certos tenores de voz aveludada, os «ases» dum qualquer torneio hipico e até atletas, disformes de corpo e incompletos de alma, dos que se exibem nesses tablados execraveis de coliseu...

Demorava-se nos institutos de beleza e nas casas de modas — feiazinha gentil que quere vencer na vida — e era rápida nos seus programas de ordem prática. Crente e religiosa, adorava tambem os perfumes de preço.


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