Casou. Casou numa manhã de outono com um homem pobre de espírito e avultado de bens, que lhe proíbiu o rouge, lhe mediu a altura das saias e lhe impoz o dever de sair pouco, fazendo-a renunciar a diversões mundanas. E ela habituou-se gradualmente a uma nova vida, filosofando, resignada, sobre o irremediavel e calando no seu intimo uma vaga saudade do rouge e dos vestidos curtos de solteira...
Mas, como não teve filhos, depressa o tédio a dominou. E passava horas por detrás da janela do seu gabinete de vestir, bordando bagatelas e observando, pela fenda das cortinas de tule, os transeuntes habituais ou ocasionais da rua tranquila em que morava.
Todos os dias passava ali um homem de figura esguia, distinto de aspecto, que trazia sempre no rosto pálido uma expressão de tristeza impressionante. Ela pensava muito nesse homem; e o seu geito romantico levou-a a sentir uma funda simpatia — despertada pelo mal imaginário ou verdadeiro do transeunte desconhecido.
Que sofrimento entristeceria assim o rosto alonga-
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