Saltar para o conteúdo

Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/27

Wikisource, a biblioteca livre
duma mulher da epoca


16 de Novembro

Já tenho casa. E' linda, sorridente, visitada pelo sol. Não é grande, mas possue muitas janelas e tambem uma larga varanda, da qual a gente se debruça por sôbre um jardim simétrico, regular, cuidado e aparado até o exagero. Com que alvoroço intimo percorri hoje essa casa, de um extremo a outro! Foi uma sensação de posse plena, completa, a que se reunia um quasi nada de orgulho e uma profunda comoção.

A minha casa! Eu e Vasco havemos de brincar ali, como duas crianças; hei-de esconder-me atraz das portas quando estivermos sós, para assustá-lo, surgindo repentinamente á sua frente; hei-de ter cravos na espaçosa varanda e fazer de cada janela um minusculo jardim suspenso.

Vou cuidar com especial carinho da sala de trabalho. Vasco diz-me que lhe é grato trabalhar á noite; parece-me já vê-lo, atento entre os seus livros complicados e os seus planos azuis, tracejados de branco. E eu, lendo ou pensando, lábios cerrados pelo mais discreto dos silencios, serei como que um grande bibelô, a um canto do divam, nessas noites de muda e serena ternura.

— 25 —