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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/28

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Diana de Liz: Memorias


18 de Novembro

Trouxeram ontem o meu vestido de noiva. Colocámo-lo a meio do gabinete de vestir, num manequim, e dispuzemos-lhe, por cima, o manto de renda. Está lindo. Não posso compreender porque me senti como que sufocada por uma onda de tristeza que, de repente, me assaltou — depois de o haver examinado du- rante alguns minutos...

Fui fechar-me no meu quarto, deitei-me sôbre o leito e chorei. Senti um desejo intenso, quasi irreprimivel, de fugir para muito longe e nunca mais vêr toda esta gente que me rodeia. Dominei-me, por fim, e voltei ás minhas ocupações. Mas todo o dia estive enervada e quando, á noite, Vasco chegou, acheio-o detestavel. Pareceram-me de um mau gosto inconcebivel a gravata que trazia e a côr amarela dos seus elegantes sapatos. Iria jurar que me agradaria muito mais se não se penteasse com tanto esmero e não mostrasse tanto amiude os seus belos dentes regulares e brancos. Cheguei a julgar que já não o amava; e pensei que talvez o adorasse se ele fosse muito mais feio, sedutoramente feio e espirituoso, como o marido de Luizinha, a quem a mulher parece não achar graça alguma...

Hoje, estou outra. Já Vasco se me afigura incom-

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