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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/43

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duma mulher da epoca


me troca — sabe Deus quantas vezes! Pois não serei bastante viva de espirito e suficientemente amorosa para o cativar? Que exigirá ele mais de uma mulher e porque não lhe bastarei eu, sua esposa há tão pouco tempo?! Não sei, não comprehendo... Seja como fôr, o pedestal em que eu me esforçava por colocá-lo e que já por varias vezes tinha oscilado, ruíu agora estrondosamente e tenho a certeza de que, embora eu cale, por dignidade, a minha magua, Vasco não voltará a ser para mim o marido muito amado que foi até hoje. Não volta, não volta!

Hipocrita! Aquela ternura de ante-ontem, dia imediato ao do delicto! Perfido! Sinto-me arrependida de me ter mostrado tão terna...

Mas porque veio minha mãi falar-me dêstes nadas miseraveis, ridiculos, em que eu nunca deveria pensar?

8 de Março

Depois de três dias de cama, por causa dum resfriamento, levantei-me hoje, quasi restabelecida. Vasco, inquieto, tem-me rodeado de atenções, que eu, revoltada por tanta hipocrisia, tenho fingido não notar. Estou-o desprezando, não resta duvida, mas, ao mesmo tempo, sinto desejos de bater-lhe. Preferiria, contudo, ter passado estes dias sem que ele me visse,

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