Saltar para o conteúdo

Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/46

Wikisource, a biblioteca livre
Diana de Liz: Memorias


ser solicitada pelo amor, deixando a casa de meus pais, cujo afecto não contentava a minha alma ardente, cairia sobre mim, vinda de alguma cornucópia maravilhosa, uma cantante e eterna cachoeira de prazeres, de jubilosas sensações. E o destino burlou-me, escarneceu-me. Casei há trez meses e meio e estou já sucumbida, amarrotada pela desilusão. Não posso deixar de pensar, com pavor, no que sucederá daqui a tres ou quatro anos... Procuro segurar-me, com todas as minhas forças, aos restos de um ótimismo que me foge; mas a realidade contundente murmura sem cessar, aos meus ouvidos, o seu estribilho dia bólico: «Teu marido atraiçoa-te após alguns escassos meses de casados, e, em troca, tu não lhe tens amor.» Esta é a verdade crua, cortante, que rompe, implacavelmente, a tunica rosada e ténue da ilusão. Eu não amo meu marido, nunca o amei, apesar de repetir incessantemente a mim própria que o amava, como uma criança que repete a lição que deve decorar. E, durante mais de uma hora, com o olhar perdido no espaço, a face encostada a uma das mãos, sentindo-me sozinha como nunca me sentira, pensei nessa verdade desoladora e evidente.

Depois, numa involuntaria sucessão de pensamentos, lembrei-me de que muitas outras mulheres viveriam, àquela mesma hora, o seu drama de amor, de

— 44 —