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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/48

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Diana de Liz: Memorias


perfume novo sobre o marmore do toucador. O meu lenço está impregnado dessa deliciosa essencia. Sinto-me ótimista; canta-me dentro do coração, nesta primavera radiosa, um passarinho irrequieto, de plumagem irisada e garganta de cristal... Ontem, estive num dos meus dias cinzentos; hoje, que diferença!

30 de Março

Não posso, não devo suportar por mais tempo o revoltante procedimento de meu marido. Foi passar hoje parte da noite com essa mulher de quem me falaram. Vi-o eu. Achei suspeito o ar apressado com que saíu depois de jantar vesti, á pressa, um agasalho e... segui-o. Desci até este ponto perante a minha propria dignidade. A mulher é grosseira, vulgar — assim me pareceu de longe. E' provavel que Vasco, já, em solteiro, a conhecesse e ache natural conservar, depois de casado, uma ligação que nada tem de lisongeira para ele.

Que vergonha! Custa a crer que um homem culto possa comprazer-se em taes inferioridades. Sob a excitação destes meus pobres nervos, não logram perdurar filosofias fáceis.

Tenho febre; e tenho frio, tambem. Isto vae acabar mal...

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