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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/58

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Diana de Liz: Memorias


o Amôr impõe-se mais do que a Amizade. E' como se apresentassem a um artista faminto, á escolha, um manjar apetitoso que lhe saciasse a fome e lhe lisongeasse o paladar-e a vista dum panorama luxuriante que o deslumbrasse, numa perspectiva maravilhosa... Por maior que fosse a sua admiração pelos encantos da natureza e por muito que nele pudesse o sentimento da arte, o seu primeiro impulso seria, inevitavelmente, para o alimento cubiçado, imprescindivel, e só depois os seus olhos e o seu espirito se voltariam para o panorama explendido, ante o qual ficaria horas interminaveis, a scismar...

Sexta-feira, 30

Não me tenho sentido bem, fisicamente, nestes ultimos oito dias. A nevralgia que, de quando em quando, me atormenta, só hoje me deixou. Não tenho saído e o socego desta casa pequena e tranquila, habitada apenas pela minha fiel Nazaré, tem-me sido aprazivel. Sou, por habito, espontanea e comunicativa, mas há certas épocas da minha vida em que apeteço o isolamento e a reflexão. Já mandei dizer a Gilberto que não contasse comigo durante estes dias mais proximos e tenho evitado, tambem, a convivencia de Luciano, que é, de ordinario, tão grata para mim.

Sinto-me infeliz, pessimista. Desde que o excelente

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