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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/59

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duma mulher da epoca


doutor Russel, velho amigo de meu pai, me quiz iniciar, há pouco mais de um ano, nos mistérios esotéricos, acredito firmemente na imortalidade e na reincarnação das almas e sou sugeita a estas temporadas de profunda tristeza. Passei a compreender certas reminiscencias que amiude me povoam o cerebro e que, não tendo aparentemente origem, me surpreendiam noutro tempo. Lembro-me, embora vagamente, de ter vivido outras vidas, todas mais ou menos acidentadas, em que sempre me debati entre o Amor e a Dor... Tenho recordações indecisas, como num sonho, de ter cingido os quadris com o cinto de pedrarias das egipcias, de me ter envolvido no péplum ondeante das gregas, de ter usado a gola quinhentista e descoberto o meu peito branco nos decotes desonestos das contemporaneas do Império...

Onde se teriam passado, sob diversos invólucros materiais e atravez de diferentes idades, as maiores tragedias da minha alma ignorada? No Egito, na Helada, na Ibéria? Na França heroica e soberba, na gélida, misteriosa Russia ou na velha Alemanha romantica dos Goethe e dos Klopstock? E entre lôdo ou entre arminhos? Em tugurios, palacios ou serralhos?

Não sei, não sei... E estou vivendo e sofrendo, amando e pecando nesta época de decadencia e de

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