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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/72

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Diana de Liz: Memorias


entusiasmo; mas subsiste ainda intacta, desgraçadamente, a corda mais susceptivel, mais ténue, mais melindrosa, aquela que corresponde ao coração e, pianissimo, o faz vibrar...

Sabado, 29.

São onze horas da noite. Depois dum dia particularmente triste como foi para mim o de hoje — em que tive, pela milessima vez, ensejo de aprender toda a extensão do infortúnio feminina — acabo de atirar pela janela fóra um livro, que não cheguei a ler todo. Mas indignou-me aquela acentuada má fé contra a mulher, a eterna sacrificada, a victima do homem, a débil espiadora dos erros e do egoismo masculinos...

A Maria Alice veio vêr-me esta manhã, e esteve aqui cerca de hora e meia. Vinha encantadora, apesar de que as magoas lhe têm maltratado a frescura e vão fazendo perder o viço ao seu rosto fino. Como não é rica, o bom gosto e a elegancia suprem, sem desvantagem, a opulencia no seu trajar, e os seus olhos castanhos, embora fatigados pelas lágrimas que vertem diariamente, não perderam ainda de todo a expressão doce dos dias de paz e de ilusão.

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