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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/73

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duma mulher da epoca


Falou muito, desabafou, chorou. E estou certa de que me oculta, por um pudor incompreensivel, grande parte das torturas que o marido lhe inflige. Diz-me que ele é violento e ingrato, que a trata com rispidez e troca os seus encantos delicados pela baixa grosseria duma cozinheira tronchuda, vexando a esposa quasi publicamente... Mas cala muito, ainda, eu bem o sei. Quem me diria, há sete annos, quando se casaram, que êsse homem amavel e alegre, de excelente aparencia e impecável trato, viria a conduzir-se tão infamemente para com a minha pobre amiga, alminha terna exsudando virtude?

E, baixando a voz, a pobrezinha confessa-me, envergonhada, que o ama ainda, que amará sempre aquele algoz vilíssimo. Pois não é ele o pai do lindo bébé rosado que, por momentos, lhe faz esquecer a sua imerecida desdita? Não foi pelo seu amor fugaz que ela trocou os mimos e a tranquilidade da casa paterna, não foi para ele que se adornou, em certo dia memoravel, com um véu e uma grinalda, tão alvos e tão puros como ela?!

Saí, pelas quatro horas. Matilde, a loira costureirinha que tanto a meu gosto trabalhou alguns dias cá

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