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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/86

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Diana de Liz: Memorias


bre cabecita, destinada, por dentro, a exgotar-se em raciocinios inuteis e, por fóra, a sofrer a tirania da moda, uma toque que me cobre quasi completamente os olhos e me provoca, geralmente, enxaquecas. Calcei as luvas, puz debaixo do braço o objecto informe que substituiu o antigo guarda-chuva e a que damos, ainda, pela força do hábito, êsse nome e saí, leve como uma andorinha...

— Que feia! — rosnou uma saloia velha e tisnada, ao passar por mim.

— Que linda! disseram dois dandys, que conversavam á porta duma tabacaria... E eu sei que ia bonita e perturbante, flor de amor, feixe de nervos, que ontem chorava e hoje sorri...

Fiz compras, paguei caro algumas bagatelas de que não precisava. Necessito desperdiçar dinheiro nos dias em que não desperdiço coração... Encontrei o Chico Macedo, mais gordo, mas ainda esbelto; está radiante porque vai casar com uma mulher rica e feia, que o adora. Ser rico, é tudo para êle. Feliz Chiquinho! E infeliz mulher...

Meia noite.

Tenho um novo pretendente, amigo de meu pai. Este têm idéas honestas e burguêsmente pacatas. É viuvo, rico e quere casar... para que as governan-

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