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Página:Diana de Liz - Memorias duma mulher da epoca.pdf/9

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via-te, amôr, a recitar para mim aquela mesma poesia, em frente da sepultura do poeta, emquanto eu contemplava o salgueiro que os amigos haviam plantado sobre a sua campa.

Mes chers amis, quand je mourrai,
Plantez un saule au cimetière.
J'aime son feuillage éploré,
La pâleur m'en est douce et chère,
Et son ombre sera légère
A la terre où je dormirai.

As lágrimas começaram a deslisar-me pelas faces, caindo sobre os lençois do hospital. Foi necessário acordar as irmãs de caridade, para que me dessemuma injecção de morfina.

Não quiz, porem, o destino que eu partisse então, talvez para que, continuando a sofrer, melhor podesse compreender e amar, sob a humildade raza que me deu o teu brusco desaparecimento, os homens desgraçados como eu.

Assim, logo que a enfermidade fisica deixou de ameaçar-me, os meus olhos nublados de lágrimas e as minhas mãos trémulas de emoção percorreram os teus papeis, ao ritmo acelerado do

coração que eu martirisava. Hoje, cumpro, apressado, uma das rasões que, naquela manhã tragica e inolvidável, me prendiam á vida. Cumpro, apres-

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