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Página:Diva - perfil de mulher.djvu/116

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escritores, recusou entregá-lo, quando Emília estendia a mão para recebê-lo.

O movimento vivo que ele fez soltou-lhe dentre os dedos o papel, que veio cair no jardim.

Ela riu e afastou-se exclamando:

— Bem feito!

O Álvares correu à porta da varanda, mas chegou tarde. Não sei que instinto da minha então embrutecida natureza me fez precipitar ligeiro sobre o papel, como fera sobre a presa.

Fui esconder-me no fim do jardim, e ali passei uma hora palpando aquele papel aveludado, com o sentimento do suicida tateando o punhal que o deve imolar. Nem mais me lembrava do que se passara com o Chaves. A primeira dor envelhecera já.

Quando me supus calmo e senhor de mim, voltei à sala.

Do primeiro olhar, vi Emília sentada na outra extremidade, sempre bela e resplandecente; mais por certo que nunca, pois nesse instante eu a admirava com olhos de maldição. Recostado ao umbral da porta, estava um homem, que a devorava com a vista, esperando impaciente a oportunidade para falar-lhe. Era o tenente Veiga, de quem já te falei.

— Ainda outro, meu Deus! soluçou minha alma agonizante.

Julga do meu sofrimento, Paulo, pela vileza a que me arrastava o desespero. Acabava de roubar um papel que me não pertencia; não era bastante; fiz-me espião. Dei volta pela varanda de modo