— É verdade; mas os hábitos sempre continuados ao final trazem a monotonia.
Tive um terror pânico. Ouvindo as palavras desdenhosas de Emília e vendo-a calçar as luvas, não sei que alucinação foi a minha; se me afigurou que essa moça ia outra vez ser-me arrebatada pela vertigem do mundo; que eu a ia perder, e agora para sempre.
— Mila, não sei que tristeza profunda me causa esta sua ida ao teatro... É uma esquisitice minha!... Que coisa mais simples do que ir ao teatro?... Mas... Não compreendo este temor... Eu lhe suplico!... Antes de partir dê-me coragem! Diga-me essa palavra que eu espero há tanto tempo!
Ela esquivou a mão, que eu procurava, vestindo-se da dignidade fria que a envolvia às vezes como túnica de gelo.
— Tem muita pressa de ouvir essa palavra!... Há de querer também um juramento solene... que firme seus direitos... Poderá então impor-me sua vontade, e que remédio terei eu se não sujeitar-me!... Mas ainda é cedo. Espere, meu senhor!
Súbita e profunda revolução se operou em mim; subjugado por ela eu apenas pude pronunciar uma frase; mas que profusão de sentimentos, que riqueza de paixão, a alma não verte numa só palavra, mesmo vulgar!...
— Basta, senhora!
Não sei se minha voz ecoou n`alma de Emília,