a quem falar; um coração amigo que recolhesse o que transbordava do meu, para mo restituir depois. Iremos juntos amanhã. Quero ver como sentirei agora ao seu lado, o que sentia outrora no isolamento de minha alma.
Às onze horas da manhã eu esperava por Emília, no lugar que ela me designara na véspera. Era um bosque espesso de bambus, que ficava distante da casa, mas dentro ainda de sua chácara. Para chegar ali, atravessei o mato, que se estendia desde a minha habitação pela encosta da montanha. Tomara o disfarce de caçador, a fim de que o nosso encontro parecesse imprevisto.
Instantes depois de chegado, ouvi rugir o palhiço dos bambus que tapetava o chão; Emília apareceu.
Vinha só.
Confesso-te, Paulo, que eu senti nesse momento tiritar-me o coração de frio. Apesar do que Emília me dissera na véspera, o fato de querer ela achar-se a sós comigo num ermo me parecia tão impossível, estava isso tão fora dos nossos costumes brasileiros, que eu repelira semelhante idéia. Acreditava que ela se faria acompanhar de sua criada ao menos, dando-me assim unicamente a liberdade da confidência, por que eu tanto suspirava.
Entretanto Emília conservava a mesma serenidade que tinha no salão; ao vê-la parecia que ela praticava o ato o mais natural. Sorria graciosa. Nem um longe rubor no cetim da face; nem uma névoa nos olhos límpidos e calmos.