DOM JOAO VI NO BRAZIL 91
pela grandeza do scenario; apinhada n uma superficie habi- tada muito pequena, que balizavam pantanos e rnattas igual- mente hostis ; sem passeios f requentados, tirado aos domingos o do umbroso aqueducto da Carioca; acotovelando um mundo de escravos, ciganos e mendigos sordidos. Os mais ricos mesmo nao tinham distracgoes que contassem, pois que estas se cifravam nas palestras de lojas onde a noitinha, antes da ceia e depois de retiradas das portas esguias as mercadorias empoeiradas, se jogava com furor o gamao; e nas reunioes no theatro, o velho casarao de Manoel Luiz ao pe do Pago, acanhado, sujo, quente, mal ventilado, pouco illuminado a azeite por um lustre de madeira e arandelas de folha de Flandres, com uma orchestra deficiente e es- pectaculos de um realismo cru e grosseiro. Eram ruins pegas desempenhadas por peores actores, nas quaes entretanto ja se prenunciavam as ousadias da revolugao nacional pela ex- hibicao a luz da ribalta de maus caracteres entre o proprio clero.
Os violinos profanes alternavam os seus sons com os do orgao da visinha capella do Carmo, da qual fazia Dom Joao a sua sala de opera favorita. Na que passou a denomi- nar-se entao Capella Real, dispoz-se o palco para a exhibi- bigao das virtuosidades dos maestros rivaes, Marcos Portu gal e padre Jose Mauricio. Estes dous distinctos composi- tores foram naturalmente convertidos nos idolos rivaes das suas respectivas facgoes: da nacional o gracioso repentista fulo, cuja admiravel organizagao musical lembra a de Mo zart pela abundancia da melodia e pelo senso da harmonia; da estrangeira o sabio e presumido, pomposo e festejado italianizador da opera portugueza. Si Ihe falhassem estas distracgoes de melomano, nao saberia muito bem em que em-
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