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90 DOM JOAO VI NO BRAZIL

tendo bebido pessimo leite quando estudou na Universidade, depois nao leu senao brochuras, e que sabe ainda menos que o conde de Villaverde, pois tendo menos talento, de tudo que leu sem methodo e sem o digerir fez um chaos na sua cabeca totalmente incoherente" (i).

Aquelle carinho pelas cousas intellectuaes andava natu- ralmente limitado a um circulo de ecclesiasticos e seculares, e nao abrangia por certo o grosso da populagao livre, entre- gue a occupac.6es mais positivas, amontoada nas suas casas pequenas, baixas e feias, desprovidas de commodidades, fal- tas mesmo de aceio escrupuloso, d antes ate isoladas do movi- mento exterior de transformagao pelas gelosias de madeira, que so nao vedavam o espreitar suspicaz. O Principe Re- gente, por prurido hygienico e esthetico como pretendem os louvaminheiros, ou com medo as emboscadas como querem os maldizentes, ou simplesmente por espirito de novidade, mandou logo nos primeiros mezes da sua residencia no Rio de Janeiro substituir por janellas de vidraga essa ultima re- cordagao dos mucharabis arabes. A ordem era singelissima, antes uma postura municipal do que uma resolugao de ad- ministracao suprema, mas pode dizer-se que por meio d ella completou Dom Joao uma revolucao nos costumes nacio- naes. Com as lufadas do ar a que as rotulas deixaram de oppor a sua meia resistencia varreram-se prejuizos atraza- dores, abrindo-se de par em par as habitacoes da nova capi tal da monarchia as innovacoes nos usos e nas ideas, que a connexidade com o Velho Mundo ia infallivelmente acar- retando.

No anno de 1808 vegetava toda a populacao fluminense cercada de esplendores naturaes ; esmagada por assim dizer

��(1) Arch. Pub. do Rio de Janeiro.

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