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102 DOM JOAO VI NO BRAZIL

manas existentes sob o ceo e fatalmente destinada a viveiro de pestes; escrevendo um d elles, com singular previsao, que apezar do ar singularmente puro, o qual havia ate entao obstado ao desenvolvimento das epidemias, a febre amarella batia as portas e, uma vez entrada, sua devastagao seria tre- menda entre uma populagao debilitada pelo clima ardente e pelos prazeres nao menos ardentes.

O mais grave, porem, era o lado espiritual, a forgosa elevagao de um meio onde a ausencia do sentimento de res- peitabilidade civica tinha determinado uma verdadeira anar- chia moral. Nao se dariam talvez mais furtos nem mais assassinatos do que n outras capitaes, sendo mesmo a falta de seguranga individual um trago social mui frequente n aquel- les tempos. Porventura occorressem ate menos no Brazil, mas o certo e que a propriedade e a vida tinham abi muito menos valor. A propriedade estava a merce do poder publico e exposta a uma notavel falta de probidade nas relagoes particulares, ao ponto de opinar Luccock que, salvo raris- simas excepgoes, nao se podia ter confianga na gente da terra. A vida andava dependente do tiro de garrucha do primeiro assassino alugado por um inimigo covarde. A policia era mais do que deficiente, e alem d isso apatbica para o que nao fosse crime politico. Os roubos e bomicidios contavam tam- bem com certa indulgencia quasi tao criminosa quanto o proprio crime, porque nao era filha da bondade, sim da indolencia e se extendia a todos os vicios, bem patentes por nao saber a hypocrisia dissimulal-os.

A hypocrisia, que os Inglezes denominam a sombra da virtude, e um trago pouco peculiar a raga latina, mas no Brazil a sua carencia nao significava infelizmente franqueza e rijeza de caracter. Denunciava pelo contrario escassez de

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