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DOM JOAO VI NO BRAZIL 103

solidas qualidades, a inconsciencia do mal, a falta de urna alavanca moral que nao fosse a pura supersticao religiosa, a ignorancia commum n uma socredade que nao so nao tinha ainda ao seu alcance os meios de se illustrar, como revelava geral antipathia ao ensino e limitada sede de angariar conhe- cimentos. As excepgoes, mesmo numerosas, nao invalidam a regra.

A epocha de Dom Joao VI estava comtudo destinada a ser na historia brazileira, pelo que diz respeito a administrate, uma era de muita corrupcao e peculato, e quanta aos cos tumes privados uma era de muita depravagao e frouxidao, alimentadas pela escravidao e pela ociosidade. Seria preciso que soprasse o forte vento regenerador da Independencfa e dispersasse essas nuvens carrancudas, para se entrever uma nesga do firmamento azul. Mesmo em reacgao ao existente, o ideal da pureza liberal e democratica se anteporia no con- ceito da nova geragao e seria o responsavel pelo desinteresse e pelo devotamento a causa publica que em larga escala acompanhariam o nosso movimento emancipador, o qual se pode concretizar nos Andradas, prototypes de saber, hones- tidade e espirito progressivo.

Para semelhante resultado contribuiria nao pouco a acgao estrangeira, em seu conjuncto altamente benefica e, merce das circumstancias, tao marcada que chega a ser um trac.0 predominante e distinctive d este periodo nacional. Ao descreverem a Bahia no curso da sua viagem, observaram Spix e Martius (i) que entre a gente abastada da terra, da qual constituiam os senhores de engenho o elemento mais rico e preponderate, se manifestava grande aversao a continuar a mandar educar os filhos em Portugal, tanto com receio das

��(1) Reise in Brasillen, Miinchen, vol II.

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