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DOM JOAO VI NO BRAZIL 115

xidao na moral davam-se partidas de jogo e danga, a que concorriam cavalheiros de peitilhos bordados, casacas de ala- mares e botoes de prata, colletes de chita e calgas de algo- dao branco, e senhoras de sapatinhos de cor, mantilha hes- panhola .e enfeftes de flores e pyrilampos nos cabellos es- curos. Eram estas senhoras no geral bonitas, bem conver- sadas, gosando de mais liberdade e tendo por isto mesmo mais desembarac.o, mais sentimento de responsabilidade e mais. instincto de sociabilidade do que as suas patricias fluminenses. A alegria d ellas dava-se sobretudo largas no entrudo,, quando escolhiam para alvo das limas de cheiro os proprios graves Inglezes do commercio, que corriam a refugiar-se fora dos seus ataques desapiedados.

Pela planicie facil e pelos suaves outeiros acampava a sociedade pastoril que ainda hoje predomina: gauchos ex- pansivos, de vozes estridentes, fallando muito, gesticulando muito, sobre cujos hombros esvoagavam ponchos enfeitados, e em cujas casas de madeira e barro alternavam rudes ins- trumentos de lavoura com os arreios de couro cru dos ca- vallos de montaria e dos bois que, em juntas de seis e oito,, puxavam os duros carros de modelo portuguez.

O couro cru, denunciando a industria capital da cria- gao de gado, servia, molle, de assento nos bancos muito bai- xinhos e largos ; inteiro, de colchao nas camas ; retezado sobre pausinhos, de reposteiro ou guarda-vento nas portas das pousadas; recortado, de manta nos dorsos dos animaes que transportavam os compradores do sertao e de alem da fronteira. Podemos figurar-nos esses mestizos de euro- peu e indio, vestidos uns de briche, faixa de cor, chapeu conico de feltro ou de palha, faca a cinta, bolsa com petre- chos de fumador sobre o hombro, e, no calcanhar a espora

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