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220 DOM JOAO VI NO BRAZIL

numero de pessoas importantes da terra para suas fazendas, e o retrahimento de muitas na capital mesmo, assim gerando urn instincto collectfvo de segregagao que poucos annos leva- ria a manifestar-se por uma irreconciliavel desuniao.

Os Brazileiros, observava com justeza o fnglez Luc- cock, sao no geral independentes, violentos e politicamente mal educados. A inclinagao a independencia, que entre a classe inferior se manifestava pela impostura e por um falso respeito humano que levava ate a gente do povo a re- putar degradante o sobragar pacotes e carregar utensilios de trabalho, revestia entre a classe superior um aspecto mais abstracto e mais elevado que devia fatalmente conduzir ao rompimento entre as duas desproporcionadas porgoes da mo- narchia luzo-brazileira. Apenas Dom Joao VI, pelo seu bom senso e pela sua affabilidade, servida por uma extraordina- ria memoria e pelo conhecimento dos pequenos factos ou incidentes relatives as pessoas com quem se encontrava e se entretinha, possuia conduces preciosas para se populari- zar, como o conseguio, apezar da antipathia despertada por alguns dos seus servidores.

A sua permanencia no Brazil teria porventura retar- dado a Independencia da mesma forma que a completa se- paragao da Austria-Hungria e actualmente demorada pelo respeito que cerca a figura dolorosa de Francisco Jose. Tam- pouco se esquivava Dom Joao VI de caminhar com os tem pos, cedendo das suas prerogativas soberanas, por mais que Ihe fossem caras e que Ihe fosse grato preserva-las il- lesas. A penetragao porem do seu entendimento e a sua capaci- dade de comprebensao dos problemas administrates predis- punbam-no, junto com a astucia peculiar a sua familia, a acceitar, ainda que n alguns casos com certa resistencia, os

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