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DOM JOAO VI NO BRAZIL 59

effeito deu nascimento, uma monarchia hybrida, mixto de absolutismo e de democracia: absolutismo dos principles, temperado pela brandura e bondade do principe, e demo cracia das maneiras, corrigido o abandono bonacheirao pela altivez instinctiva do soberano. Foi esta a especie de realeza levada ao seu auge e tomando em consideragao a diversidade do meio politico, pelo Imperador Dom Pedro II, persona- gem em muitos tragos parecido com o avo.

De Dom Joao VI se nao podia na verdade esperar cousa differente, visto por um lado o orgulho da aristocra- cia transplantada, mais intimamente ligada com a familia real, cujos soffrimentos compartilhara e de cuja confianga gosava, educada nas maximas do direito divino e machu- cada pela sua actual relativa modestia de recursos em con- traposicao a gente abastada da terra; e dada por outro a des- pretencao, que nao excluia urbanidade nem deferencia, gerada no intercurso menos cerimonioso e mais directo dos graudos locaes com os vice-reis representantes da suprema auctori- dade da metropole. Os Brazileiros estavam pois inconscien- temente preparados para a monarchia constitucional, assim como os Portuguezes tinham por seus sentimentos e interes- ses que se manter instinctivamente aferrados a monarchia absoluta. Quando annos depois, ao cabo do reinado ameri*- cano de Dom Joao VI, se deu o movimento geral e impe- tuoso de adhesao do Reino ultramarino ao programma revo- lucionario de Lisboa, encarnado legal e ordeiramente nas Cortes de 1820, os Brazileiros ainda seriam arrastados pela chimera liberal, ao passo que os Portuguezes eram instiga- dos pelo ideal da recolonizagao. Desde a chegada entretanto da corte que, antes de degenerar n um conflicto politico, uma hostilidade theorica se fora levantando onde as cir- cumstancias tinham cavado um fosso de antipathia pessoal.

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