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DOM JOAO VI NO BRAZIL 77

e o scintillar mais vivo de constellagoes novas para os au- gustos olhos, deixavam entretanto esbogarem-se em redor os contornos dos morros revestidos de basto arvoredo, a cujos pes vinham rolar as vagas, n um incessante movimento rhythmico, que franjava de espuma as praias distinguindo-se alvacentas entre a massa negra das montanhas e a chapa metallica do mar.

A impressao physica experimentada em pleno dia nao podia no emtanto dizer-se em certo sentido inferior a rece- bida de noite. Si a cidade propriamente, a agglomeragao humana, lucrava com ser vista a luz fantastica das illumi- nagoes, a natureza por certo preferia ostentar suas galas ao sol, sob o mais luminoso firmamento da creacao, de um azul tao pronunciado quao pronunciado se desdobrava o verde da vegetagao, quando o nao encobriam aqui e alem os grosses flocos das nuvens apinhadas em desenhos ca- prichosos, ou se nao trocava a sua tonalidade vibrante pela uniformidade plumbea do ceu de tempestade tropical.

Um Rei na verdade prestaria o unico tribute digno de admiragao a esplendida bahia com a sua irregularidade de linhas ; com o seu recorte em pequenos golfos, cabos e en- seadas; com a sua profusao de ilhas, algumas aridas, pella- das, quasi calcinadas ou feitas de penhascos, humidas e flo- ridas outras como ramalhetes orvalhados ; com os seus mon- tes alterosos ao longe, terminando em cabegos esguios e pro- duzindo o effeito de encerrar as aguas n um receptaculo de florestas, cujos supportes de granito pardo eram avivados por listras de argilla vermelha. Semelhante tribute Dom Joao VI o nao regateou a colonia por elle elevada a reino e transformada em sede da monarchia portugueza, e nao foi sem as mais profundas saudades que, treze annos depois, se

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