Página:Echos de Pariz (1905).pdf/136

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moso e radiante como a Mancha ou a Navarra. Eu já vi um homem, e muito intelligente, que era de Merida (um dos mais lugubres buracos do mundo), declarar, muito sériamente e convicto, que Pariz, como monumentos, e interesse, e brilho, no valia Merida! De resto, quem não tem ouvido hespanhoes, muito cultos, muito viajados, preferirem candidamente qualquer Merida sua a Roma ou a Londres, e considerar tal politiquete da sua provincia maior que Gladstone e Bismarck, e achar em certo folhetim publicado n’um jornal de Andaluzia mais genio que em toda a obra de Hugo? A isto se chama ordinariamente a exageração hespanhola. Não! É apenas a candida illusão de um patriotismo transcendente.

Considerando assim a sua patria, tão formosa, tão grande, tão forte, tão genial, e prestando-lhe um culto como á verdadeira e unica divindade, como não ha-de o hespanhol exaltar-se até ao tresloucamento, quando a suppõe ultrajada? Para elle uma offensa á Hespanha é um sacrilegio, e tem então o santo furor de um devoto que visse alguem cuspir n’um crucifixo. Para castigar a profanação abominavel, fará com enthusiasmo todos os sacrificios, e logo immediatamente o da vida.

Todos se lembram ainda da famosa «questão das Carolinas». Uma manhã, Madrid sabe que, muito longe, em mares remotos, um official allemão plantára n’umas certas ilhas vagamente hespanholas, e chamadas Carolinas, a bandeira allemã. Ninguem em Ma-