Página:Echos de Pariz (1905).pdf/197

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Nas nossas democracias é alcançar o louvor do jornal. Para conquistarem essas dez ou doze linhas bemditas, os homens praticam todas as acções — mesmo as boas. Não é mesmo necessario que essas linhas contenham um panegyrico: basta que ponham o nome, a personalidade em evidencia, n’uma tinta bem negra, que hoje tem um brilho mais desejado que o antigo nimbo d’ouro. E não ha classe que não esteja devorada por esse appetite morbido do reclamo. Elle é tão vivo no mundano, no homem de prazer, na mulher de luxo, como n’aquelles que parecem preferir na vida a obscuridade e o silencio. Parque vêm agora, n’estas semanas, esses frades dominicanos, do fundo dos seus claustros, pregar nos pulpitos de Pariz sermões de Quaresma grandemente theatraes e creadores de escandalo? Para terem uma celebridade no genero Coquelin, e interviews nos jornaes de litteratura elegante, e o seu retrato, com o habito do grande S. Domingos, exposto entre jockeys illustres e as cancanistas do Moulin-Rouge. É esta esperança do «artigo do jornal», que, como outr’ora a esperança do céu, governa a conducta e as ideias — e para «vir no jornal» é que os homens se arruinam, e as mulheres se deshonram, e os politicos desmancham a boa ordem do Estado, e os artistas se lançam na extravagancia esthetica, e os sabios alardeiam theorias mirabolantes, e de todos os cantos, em todos os generos, surge a horda sofrega dos charlatães. Cada um se empurra, se arremessa para a frente, quer fazer estalar, bem alto no ar, o seu fogo de ar-