Página:Echos de Pariz (1905).pdf/220

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Como uma fila submissa, de bons carneiros, todos estes milhares de seres pensantes, e unicos donos do seu pensamento, marchavam arrebanhadamente para aquellas obras que, na vespera, o Estudo Critico, ou antes o Guia Critico, do Salão, publicado pelo Jornal, lhes indicava, ou melhor lhes impuzera, como as unicas deante das quaes deviam parar, e fazer ah! e sentir uma emoção e depôr um louvor. Não só o jornal previdentemente lhes apontava a obra, mas lhes ensinara mesmo a emoção que deviam experimentar, e até lhes redigira a formula laudatoria que deviam balbuciar. E os milhares de seres pensantes (muitos com o jornal na mão) lá se apinhavam, em densos magotes, deante da tela, recebendo obedientemente a emoção ensinada, recitando, sem omittir um adjectivo, a formula do louvor decretado. Um padre da Companhia de Jesus teria saboreado deliciosamente este salutar espectaculo de disciplina mental.

Todavia este povo fez, com intensa paixão, tres revoluções sangrentas para alcançar o direito de livre-exame e de livre-juizo. Essa conquista, symbolisada sempre na classica tomada da classica Bastilha, é com razão um dos seus altos orgulhos e foi ella que o auctorisou a revestir-se entre as nações do caracter messianico, e a intitular-se «redemptor dos Povos», o que tanto fazia rir o amargo Carlyle. Com effeito, a liberdade de ter uma opinião, não só em materia politica, mas mesmo em materia philosophica e esthetica, nem sempre foi garantida aos parizienses, e houve tempos