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Página:Echos de Pariz (1905).pdf/226

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tamente nú, de corpo e de espirito, sem um trapo e sem uma ideia. D’ahi a um momento, dispondo de algum dinheiro, e graças ao armazem de fato feito, e ao armazem de ideias feitas (que se chama o jornal), póde estar todo e dignamente vestido, por dentro e por fóra, e sahir á rua, e ser um senhor.

Esta gente, pois, que aqui anda, com o seu jornal na mão, consultando n’elle as obras que ha-de admirar e as phrases em que ha-de moldar a sua admiração, não é talvez o rebanho humilde que marcha sob a ferula da auctoridade. É antes uma turba de amanuenses, que, como o outro do tempo de Voltaire, não tiveram vagares para adquirir bom gosto. Quando Voltaire escreveu, não havia quasi jornaes, o unico critico d’arte era Diderot e ainda se andava compilando a Encydopedia. Aquelle amanuense estava realmente muito desajudado. Hoje, com tantos e tão baratos jornaes e uma tal legião de grandes e verbosos criticos, não ha desculpa para que um amanuense, mesmo sem ter relações com Voltaire, se não forneça de dous ou tres kilos de bom gosto. E fornece, porque sabe as vantagens de ter alguma esthetica e alguma poetica, quando se vae á noite tomar chá com senhoras. Ahi os vejo todos, trazendo o jornal cheio de opiniões, como um cartucho — e, deante da estatua de Dubois ou do quadro de Bonnat, dizendo com segurança, depois de metter a mão no cartucho, o que este anno se deve decentemente dizer sobre Bonnat ou Dubois.

E aqui está como, divagando com o costumado