Página:Echos de Pariz (1905).pdf/231

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zes lhe foram censuradas pelas opposições extremas, que elle terminou por immolar dentro em si esta derradeira e modesta expressão da sua força pensante. Foi então que ganhou a reputação phantasista de ser de pau. A sua vontade immovel ou immobilisada traduzia-se na rigidez hirta da sua attitude. Quasi não ousava mover um braço com receio de magoar um artigo da Constituição. Quando muito saudava e sorria. Assim pelo menos o pintavam os caricaturistas e os cancionistas. E se a historia da sua presidencia fôsse mais tarde estudada n’estas obras ligeiras do humorismo pariziense, ellas dariam ideia de um chefe de Estado cujos unicos actos historicos fôram saudar e sorrir. Carnot não era mais que a imagem ornamental e symbolica da Republica, como essa estatua de ouro da Victoria, que protegia o Imperio Romano. E o partido politico, que com um fim politico assassinasse este chefe, seria tão insensato como uma tripulação revolta que, querendo apoderar-se de um navio para lhe dar um rumo novo, decepasse expressamente e furiosamente a figura de pau esculpida na prôa.

Por isso o crime de Lyão foi logo, e sem outro exame, attribuido ao anarchismo; — porque só os anarchistas, hoje, n’esta nossa civilisação raciocinadora, utilitaria, conservam, como os selvagens, a ferocidade pueril de commetter crimes inuteis. São elles que, para destruir todo o capital oppressor, arrasam um predio qualquer de tres andares, e para demolir a burguezia auctoritaria matam a estilhas de bomba alguns em-