Página:Echos de Pariz (1905).pdf/99

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Realisada esta terceira expurgação, o suffragio universal passou a banir das camaras, enojado, os artistas, os cinzeladores da palavra, os mestres inspiradores da oratoria. Basta de lyra! gritavam em 1848 os operarios famintos a Lamartine, uma tarde em que elle, na cadeira do Hotel de Ville, estava arengando e sendo sublime. Toda a França industrial e agricola repete agora o mesmo grito positivo. Basta de lyra! Abaixo a eloquencia! Fóra a rethorica e a sua rijada ardente!

E assim todos os grandes oradores contemporaneos da tribuna franceza ficam de repente sem tribuna e sem profissão, porque (caso unico na historia) a democracia rejeita definitivamente a eloquencia como factor do seu progresso.

Tendo realisado estas successivas depurações, e repellido para longe, para os seus elementos naturaes, os Catões, os obstructores, os ideologos e os artistas, o suffragio universal passou a eleger com cuidado e amor uma camara bem mediana, bem ordeira, bem pratica, bem positiva, toda experiente em cifras, superiormente conhecedora dos interesses regionaes, capaz de trabalhar quatorze horas nas commissões, e feita á imagem e para o util serviço d’esta França nova, que é simultaneamente um banco, um armazem e uma fazenda. Depois o suffragio universal descançou — e viu que a sua obra era boa.

Com effeito é uma boa obra de democracia. Em primeiro logar, todas as superioridades que podiam