2019
“Eis, amigos, o grande criminoso! Tão horrível o que ele nos conta, que
é inútil prosseguirmos na investigação. A vítima a sacrificar-se aos deuses
não pode ser outra, porque não pode haver crime maior do que furtar a
sacratíssima couve do senhor vigário.Aos poderosos tudo se desculpa; aos miseráveis nada se perdoa. (Lobato 1962:92)
Dona Benta ainda comenta: “Retrata as injustiças da justiça humana. A tal justiça é implacável contra os fracos e pequeninos — mas não é capaz de pôr as mãos num grande, num poderoso”. É preciso aqui realçar a sátira religiosa, com a gravidade do crime do burro em comer uma folha de couve justamente do vigário.
Em seu artigo “Monteiro Lobato e o Partido Comunista do Brasil”, Osvaldo Bertolino descreve o contato que o escritor teve com o PCB. Quando Lobato esteve preso na Casa de Detenção de São Paulo, em 1941, ficou em uma cela com o comunista José Maria Crispim, com quem aprendeu muito sobre o comunismo. Além disso, teve bastante contato com Luís Carlos Prestes, por quem tinha grande admiração, apoiava muitas das ideias do PCB e admirava o grande progresso alcançado na União Soviética.
Em seu livro Mister Slang e o Brasil — colóquios com o inglês da Tijuca (1927), Lobato imagina um futuro em que Prestes seria louvado no Brasil: “Tomei um bonde e remergulhei-me na cidade dos monumentos e revoltosos, calculando de mim para mim onde iria erguer-se em anos futuros a estátua do Marechal Prestes” (Lobato 2008: 134). No artigo “O padrão”, publicado em 1928, ele lamentava que o presidente Washington Luis não houvesse contemplado seu grandioso plano, pondo no Ministério da Guerra o famoso comandante da “Coluna Prestes”. Em “A cegueira naval”, ainda, ele escreveu que o capitão Prestes, mesmo “nu”, sem recursos, era general (Bertolino, 2012). Já doente, Lobato não pôde comparecer ao comício do Pacaembu, em 15 de julho de 1945, que homenageou Prestes. Mas fez, de sua residência, por telefone, uma saudação ao líder comunista, enfatizando a divisão social no Brasil.
O nome de Lobato foi anunciado na chapa apresentada pelo Comitê Estadual paulista do PCB, já na legalidade desde outubro de 1945, para